O entrevistado é economista e ocupa o cargo de Diretor de Assuntos Econômicos da Fiepi
Neste 25 de maio comemora-se o Dia da Indústria. No Piauí, este importante setor da economia ainda necessita de um impulso que permita a projeção do estado na produção nacional, a geração de mais empregos e o crescimento da produção interna de bens de consumo duráveis e não duráveis.
No contexto, a figura do profissional economista é de muita relevância. Ele é o responsável pelo planejamento, ou seja, a base das ações e projetos que alavancam o setor industrial e demais setores relacionados à economia.
Quem salienta esta importância é o economista e ex-senador piauiense Antonio de Almendra Freitas Neto, atualmente no cargo de diretor de Assuntos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Piauí-Fiepi. No conceito e visão classistas de Freitas Neto, o economista é um dos esteios das corporações industriais e, por isso, fundamental agente para levar a indústria nacional e piauiense a patamares mais elevados.
Nesta entrevista ele também tece considerações sobre a atual conjuntura econômica do país e as reformas pretendidas pelo presidente Michel Temer.
Leia a entrevista completa:
O senhor acha que o economista é valorizado?
Aqui no Piauí o profissional economista não é valorizado. No contexto nacional sim, haja vista que os assuntos econômicos representam grande fatia do noticiário brasileiro e mundial e sempre vemos a participação de economistas. Se você ler qualquer revista de peso, qualquer jornal, vai ver que a parte econômica toma uma fatia bastante expressiva na composição editorial. Aqui no Piauí o que conta nos noticiários, infelizmente, é o lado político-partidária. É quem vai ser o governador, o prefeito, quem vai receber a secretaria tal… Quem vai se coligar com quem… Acontece à eleição e no dia seguinte já se começa a falar na próxima.
A que se deve isto?
Eu não quero culpar ninguém. É este o nosso contexto, a nossa mentalidade. Para o bem do estado e das próximas gerações precisamos pensar num futuro melhor. E, nesse particular, o economista, que é uma pessoa preparada, pode avaliar como podemos crescer, a região se desenvolver; e também, no sentido mais amplo, contribuir para o país.
O que falta para o nosso desenvolvimento econômico?
Perdemos na nossa região coisas importantes. Por exemplo, a Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), que foi o primeiro órgão a desenvolver a economia do Nordeste. Se você fizer uma avalição do Nordeste antes e depois da Sudene a diferença é grande. Esse órgão deu os primeiros passos para o desenvolvimento da região e também deu os primeiros passos para que muito se pensasse em planejamento. É verdade que houve muita corrupção na Sudene e na Sudam, mas em vez de acabarem com a corrupção acabaram com esses dois importantes órgãos. Aliás, foi um dos maiores erros do presidente Fernando Henrique Cardozo.
Voltando à importância do economista…
Hoje você não pode ter nem uma pequena empresa sem planejamento. Aí você faz uma avaliação de quanto vai pagar; quanto vai gastar; e isso é planejamento e o economista desempenha importante papel. Por outro lado, no âmbito de estado temos hoje uma Secretaria de Planejamento com equipe muito boa, e nela a presença do economista é fundamental.
Qual é a desvantagem dele?
É o fato de ele ter que fazer futurologia. Tem que projetar cenários. Evidentemente, as variáveis são muitas, principalmente quando se planeja no longo prazo. Aí falam: ah, o economista previu isso, mas aconteceu o contrário… Ocorre que ele não advinha. Trabalha com os dados de hoje no ambiente de hoje. Quando há uma mudança, o cenário se modifica e muda o resultado do planejamento. Mas sem dúvida nenhuma o economista é um profissional indispensável para um bom planejamento.
E as indústrias em relação ao quadro de recessão?
Na realidade o setor industrial tem padecido de maneira muito forte em função dessa crise que se instalou por volta de 2009 e entramos oficialmente numa recessão a partir do terceiro trimestre de 2014. O setor industrial foi o que primeiro sentiu. Quando há uma retração econômica, o setor industrial reflete logo essa situação, reduzindo bastante a produção em segmentos importantes da indústria e passando um período muito grande operando negativamente. Mês a mês decrescia a produção industrial do país.
E no Piauí?
Não somos um estado industrializado, mas também sentimos, pois afinal de contas nós estamos no Brasil. Os efeitos de uma crise econômica afetam primeiro as regiões mais desenvolvidas e depois chegam às menos desenvolvidas.
Qual a dimensão da crise?
O país entrou em crise e o setor industrial também. E essa crise, dizem muitos colegas economistas, é a mais profunda e mais longa que o país já teve. Felizmente, no momento já enxergamos uma luz no fim do túnel. Há meses em que a produção industrial vem se tornando positiva. Em abril passado ela reduziu em relação a março, mas, se você notar, no primeiro trimestre deste ano os resultados foram positivos. E o Piauí acompanha isto.
Qual o setor industrial que se destaca no Piauí?
Aqui temos um setor muito forte, a indústria da construção civil. Ela emprega muito, responde rápido no momento em que a economia aquece. Tenho impressão que ela representa mais de 50% da nossa produção industrial. A construção civil não é forte apenas em nosso estado. Também nos demais estados brasileiros não industrializados.
E as consequências da recessão?
Aconteceu o maior problema no campo social. O desemprego atingiu 14 milhões de brasileiros, fora aqueles que estão subempregados. E nós temos uma capacidade ociosa muito grande nas indústrias. A capacidade instalada delas está muito acima daquilo que ela utilizando para colocar a produção no mercado.
O senhor acha que o país está melhorando?
Sim. O bom de tudo é que neste clima de otimismo – pois temos mesmo de ser otimistas – percebemos ter chegado ao final da forte recessão. Tecnicamente saímos dela. Devemos crescer perto de 0,5% este ano e em 2018, algo em torno de 1,5% ou, segundo os mais otimistas, 2%.
As reformas propostas pelo Governo Federal são mesmo essenciais para o retorno do crescimento?
No Brasil, além dos problemas internacionais, os fatores externos, tivemos os problemas brasileiros. Estivemos com a inflação descontrolada; passamos três ou quatro anos estourando atingir a meta inflacionária, que era de 4,5% e nem sequer ficou nos 6,5 %. Passou. Chegou a dois dígitos, coisa não acontecia desde o advento do Plano Real. Os juros estão muito altos, pois quando estamos com inflação uma situação acarreta a outra. Há uma queixa muito grande do empresariado sobre o Custo Brasil. Uma insegurança que todo tem. Há a questão da reforma trabalhista. A CLT é muito antiga e qualquer pessoa racional sabe que ela precisa ser modificada. É preciso flexibilizar. Acho que a reforma proposta tem pontos mais positivos que negativos. O Senado está cuidando de tirar os possíveis exageros que prejudiquem o trabalhador. Ninguém é a favor de tirar direitos dele. Eu não sou. Mas não podemos ter uma legislação anacrônica. Precisamos criar uma legislação trabalhista adaptada ao mundo moderno, lógico que preservando os direitos dos trabalhadores.
E a reforma da Previdência Social?
A Previdência onera demais o caixa do país. Ela provoca déficit e toda vez que a União tem déficit a economia se ressente. Não é mais sustentável. O que se está gastando hoje não é compatível com a participação dos contribuintes. É uma questão matemática, aritmética. É economia, não política. Nós temos que encarar a realidade. E qualquer que fosse o presidente hoje, de direita ou de esquerda, teria que realizar as reformas necessárias na Previdência, porque ele ficou insustentável. Se ficar como está o aposentado no futuro terá no mínimo o seu salário parcelado, como já está acontecendo em setores públicos. Por situações insustentáveis também no cenário internacional tivemos de agregar os fatores externos aos internos. Quando o mundo esteve sob céu de brigadeiro, entre 2003 e 2009, perdemos momento de realizar as reformas necessárias na Previdência e em outros setores.
Então elas teriam ocorrido sem grandes problemas?
Era o momento propício. Quando não há dificuldades fica mais fácil. Até ocorreram algumas reformas naquele período, mas muito tímidas. Parece que o Brasil nunca teria mais problemas e descansou-se um pouco. O momento atual agrava as dificuldades, inclusive a aprovação das medidas no Congresso. As reformas pretendidas também refletem muito negativamente na opinião pública. E o governo se comunica muito mal quando tem que explicá-las. Não consegue comunicar o que está fazendo, porque está fazendo, e não mostra as consequências futuras caso não se faça.
Há uma crise política…
A crise política existe também serve para complicar. Creio que, superando-a, poderemos mais facilmente solucionar a crise econômica. A instabilidade politica, o fato de não se saber o que vai acontecer amanhã, influência a insegurança do empresário. Ele talvez pense em ampliar seu negócio, mas fica com o pé atrás.
Texto: Hércules Amorim – Assessoria de Imprensa